Notícia

Tenha uma boa “crise”

07/02/13

Albert Einstein disse: “Não pretendemos que as coisas mudem se sempre fazemos o mesmo”. A ‘crise’ é a melhor benção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar superado.

Há algum tempo a palavra “crise”, que ganhou curso na economia a partir do século XIX, povoa com bastante intensidade os noticiários e, consequentemente, o pensamento de todos nós. Tal situação é reflexo das dificuldades econômicas enfrentadas por diversos países, que têm modificado e afetado, de forma drástica, a vida de milhares de pessoas em todo o mundo.

Do grego “krísis,eos”, crise significa “ação ou faculdade de distinguir, decisão”, por extensão, “momento decisivo, difícil”. Trata-se de uma derivação do verbo grego krino, “separar, decidir, julgar”. Já em latim, o substantivo crise (crisis, is) significa “momento de decisão, de mudança súbita”. Esse vocábulo era e ainda é usado especificamente na medicina para definir a decisão frente a mudança na evolução de uma doença, constituindo o momento crucial para a cura ou para a morte. Se pesquisarmos um tanto mais, encontraremos, ainda, outras significações para essa palavra. Para os chineses, por exemplo, crise é definida como “oportunidade ou fim”.

Por mais que existam tantas formas de interpretá-la, concordo com a afirmação de Einstein:“crise” é a melhor benção que pode ocorrer em nossas vidas, pois obriga-nos a encontrar a criatividade intrínseca para superar, vencer e crescer. As próprias etimologias da palavra nos chamam atenção para a tomada de decisão diante de mudanças inesperadas, uma prova que nenhuma crise é necessariamente ruim, pois, superando-as, sairemos mais fortes.

Mesmo quando, em tempos nebulosos, perdemos algo, podemos nos fortalecer. Nenhuma perda é para sempre; o fim de algumas coisas faz parte da vida e muitas vezes algo precisa acabar para dar espaço a uma nova mudança. Quando entendemos o fim como um novo caminho, a vida toma um sentido promissor.

Podemos, então, efetivamente viver; não somente sobreviver. Geralmente o fim daquilo a que nos apegamos ou acomodamos nos tira da famosa “zona de conforto” e provoca, em cada um, questionamentos sobre a vida, sobre aquelas questões que adiamos a resolução. Lembra-nos que nada é para sempre e dá uma noção real de que o tempo anda, não pára e não espera. Ensina que tudo vale a pena e que nenhum sacrifício é em vão.

E por falar em sacrifício… esta é outra palavra injustiçada. Geralmente as pessoas a associam a algo “ruim”, pelo fato de vivermos numa sociedade que valoriza o fácil, estimula o comportamento hostil e preguiçoso. Todavia, esta palavra nasce da união dos termos “sacro”“ofício”, ou seja,“trabalho sagrado”.

Pelo simples fato de sermos humanos, existem circunstâncias em que nada ou quase nada podemos fazer. Porém, independente da escolha que fazemos, a vida segue e certamente tempos melhores “se abrirão”  no futuro, sentindo que nossos planos fluíram a contento.

Pense de forma sincera: na atual conjuntura social e econômica em que vivemos, quantas pessoas você conhece são capazes de realizar o sacrifício de modificar a si mesmas e transformar fracasso em sucesso, angústia em criatividade? Quem, desse vasto grupo, poderia conjugar os verbos que derivam da crise, ou seja, “superar” a si mesmo sem ser “superado” por ela?

Devemos meditar a respeito das coisas que interiormente nos bloqueiam e reagir, tendo em nós que, apesar de todas as dificuldades oferecidas durante nossa trajetória, nada poderá impedir nossa vitória: a não ser nós mesmos. Descobrir a importância dos sacrifícios é vencer. O ideal é passarmos a respeitar o “tempo certo do nosso interior” e perceber que é preciso bater mais do que uma vez na mesma porta (aquela que obstrui seus sonhos) até que ela se abra. Quando ela se abrir, permita-se também descobrir algo maior. Entenda que aquele sonho pode não ser só seu. Todo sacrifício e superação empenhados hão de inspirar outras pessoas e muitas outras portas podem ser abertas e, de maneira consequente, perdas serão superadas e vidas, transformadas.

Falar sem parar nas crises, dedicando grande parte do nosso precioso tempo a esse assunto, é promover o conformismo. Em vez de ajudar a propagar tantas desgraças, podemos agir diferente. Nós temos a capacidade de fazer valer a pena o sacrifício e insistir na força do nosso trabalho. Lembre-se de que a única crise verdadeiramente ameaçadora é a tragédia do homem que cruza os braços conformado e desiste de si mesmo. Todo resto pode ser superado; basta confiar, pois aquele que acredita em si mesmo é o único capaz de vencer.

Rodrigo Rocha é diretor de marketing da Amil, onde atua também na parte de Inovação. É cofundador da One Health, unidade de negócio do grupo Amil voltada ao segmento premium. Foi um dos primeiros executivos do Brasil a se integrar à Singularity University, no Vale do Silício, considerada a universidade que cria o futuro. Obteve o MBA em Finanças pelo IBMEC. Contatos:Twitter LinkedIn

Fonte: HSM