Notícia

Em poucos anos, seremos todos designers

14/01/13

Poucos dias atrás, minha filha de apenas 11 anos mostrou-me no seu celular um videoclipe que ela produziu com um aplicativo chamado Video Star. Guardadas as proporções de qualidade e refinamento, o clipe reunia tudo o que poderíamos esperar de um vídeo musical exibido na MTV: efeitos visuais, uso de filtros de cores, edição de cenas, sincronismo entre imagem e música, além de outros recursos técnicos impressionantes para um filme caseiro feito por uma criança!

O clipe da minha filha remeteu-me à minha experiência de 15 anos antes, no auge da era do videoclipe musical, quando fiz dois trabalhos no gênero. Os custos e a complexidade envolvida eram enormes, exigindo equipamentos caríssimos, equipe de muitos profissionais para a filmagem e inúmeras horas em ilhas de edição. Sem dúvida, muita coisa mudou nestes últimos anos, e o design – ou, de modo mais abrangente, a produção criativa – de certa forma encontra-se agora ao alcance de todos.

Quando iniciei a minha vida profissional, design era uma atividade para poucos, pois tinha como pré-requisito para o designer ser dotado de habilidade manual, técnica artística e gráfica. Até mesmo a mais elementar execução das artes-finais exigia precisão.

Na virada para a década de 1990, surgiram os computadores e os softwares gráficos, ferramentas digitais libertárias que deixaram a possibilidade de trabalhar com design ao alcance de mais pessoas, uma vez que a tal habilidade manual já não era mais necessária. Nos primeiros anos, comprar um Apple, um escâner e uma impressora a laser representava um alto investimento. Com os preços proibitivos, os poderosos recursos digitais ainda permaneceram restritos apenas aos profissionais. Com o passar do tempo e a abertura do mercado, os preços gradativamente caíram e, atualmente, estas e outras ferramentas estão ao alcance de muitos, estabelecendo uma verdadeira revolução na atividade do design, com ênfase considerável para a produção gráfico-visual amadora.

Ao longo da década de 1990, muitas outras coisas mudaram: a impressão a laser substituiu gradativamente as fotocópias, eliminou-se a necessidade de fotolitos, barateando a impressão, e o tratamento de imagens tornou a fotografia e a ilustração publicitária uma única atividade. Em seguida, surgiram os bureaus de impressão, que reduziram os custos da produção de peças gráficas com tiragens pequenas. Com as chamadas gráficas rápidas, todos passamos a poder imprimir tanto os nossos documentos quanto, inclusive, livros para uso restrito.

A impressão digital permitiu reproduções de imagens em formatos gigantes, revolucionando a comunicação sobre mídias externas… Pouco depois, vieram as impressoras inkjets para uso doméstico e passamos a imprimir a cores em casa, podendo, inclusive, reproduzir nós mesmos as nossas próprias fotografias. Máquinas fotográficas digitais foram um caso à parte: conseguindo visualizar o resultado no visor e sem a inibição dos custos de aquisição de filmes ou revelação, tornamo-nos uma multidão de fotógrafos, de modo que esse processo foi otimizado quando o recurso da fotografia ou filmagem convergiu com os celulares. O registro cotidiano passou a fazer parte do hábito de todos, o que, com a opção de compartilhamento nas redes sociais, ganhou uma dimensão extraordinária. Hoje, se registra e posta tudo, desde informações relevantes até uma mera foto da refeição na hora do almoço…

O que fica evidente neste percurso é que os processos criativos e produtivos estão ao alcance de cada um de nós. Com o lançamento dos aplicativos, teve início um novo salto no sentido de fazermos (quase) tudo, inclusive videoclipes, como os produzidos pela minha filha. Capacidades que, somadas à mobilidade, transformam permanentemente as pessoas comuns em potenciais criativos produtores de suas ideias.

Em meio a esse panorama de democratização criativa do mundo digital ou gráfico, o design de produtos e a produção industrial de artefatos reais pareciam protegidos. Porém, com as recentes impressoras 3D, todos seremos capazes de manufaturar as nossas ideias, testando sonhos e imprimindo objetos. Essas máquinas, do tamanho de um forninho micro-ondas, transformam arquivos CAD em coisas físicas tão facilmente quanto imprimimos hoje uma foto. Acompanhando a tendência que, com o tempo, deixa todos os equipamentos de design incrivelmente baratos, mais poderosos e intuitivos, bem como disponíveis para praticamente qualquer pessoa, impressoras 3D em breve estarão nos nossos domicílios.

Esses equipamentos de modelagem serão uma nova revolução no nosso modo fazer e se relacionar com artefatos. Assim como a impressão das fotos, em breve faremos o mesmo em casa com as coisas que vemos e gostamos, somando o desktop publishing ao desktop manufacturing. Será o início da era do “eu mesmo faço”. O famoso designer Yves Behar escreveu recentemente em um artigo na revista Wired: “O design não será algo que simplesmente nós apreciamos; será, em breve, algo que faremos”.

Assim como alguns desenham casas mesmo não sendo arquitetos (vide favelas) e até constroem prédios sem serem engenheiros, pessoas poderão criar o design de objetos, fabricando-os sem grandes investimentos de capital. Imaginem o potencial criativo que isso proporcionará à humanidade! Quantas criações geniais estarão livres para nascer, serem testadas nesses protótipos e, eventualmente, produzidas em escala industrial? Será, sem dúvida, uma contribuição significativa para as empresas inseridas no processo de mudanças constantes e pressionadas pela demanda dos consumidores por inovação. Com o advento das impressoras 3D, quesitos dificultadores para o lançamento de novas propostas se tornarão menos relevantes: os custos e o tempo necessário para o desenvolvimento dos produtos, além das atuais margens de risco, demasiadamente grandes, dos lançamentos sem os testes de mercado adequados.

Nenhum setor da economia deixará de ser afetado, uma vez que cada pessoa terá ao seu alcance condições de criar e produzir as suas ideias. Este é o início de uma nova forma de empreendedorismo. Pessoas criando produtos novos, testando-os no mercado local, os quais, se aprovados, possivelmente serão adquiridos pelas grandes empresas com o poder da distribuição.  Mesmo no que se refere às logísticas de distribuição, a produção atual de aplicativos, artefatos digitais, já aponta para novos caminhos. Na App Store, por exemplo, verifica-se a coexistência de agentes produtores e distribuidores. Este novo mercado codependente e com estrutura sistêmica e orgânica é também o modelo da Amazon, em um exemplo de produtos físicos.

O grande investimento, portanto, será nas ideias e, evidentemente, na qualidade do design. Bob Hayes, professor da Harvard Business School, questionado sobre a importância de se investir em design, afirmou: “Há 15 anos, as empresas competiam em preços. Hoje competem em qualidade. Amanhã competirão em design”.

E o design migrará para o pensamento estratégico criativo (incluindo a solução estética, naturalmente), associado ao controle e à capacidade técnica de viabilização e implementação das ideias. Com as ferramentas de criação e os meios produtivos ao alcance das pessoas, em poucos anos, seremos todos designers em potencial.

Fonte: Mundo do Marketing