Notícia

A cultura intraempreendedora

23/05/12

Andrew Zacharakis comenta os aspectos que compõem a cultura intraempreendedora. liderança, sistema de recompensas e tempo são fatores importantes

Andrew Zacharakis, Ph.D em psicologia cognitiva, é consultor e professor de empreendedorismo na Babson College de Wellesley, Massachusetts, reconhecida por fomentar o espírito empreendedor. Nesta entrevista, ele aborda o intraempreendedorismo – as iniciativas que são levadas a cabo dentro das empresas – e comenta a pesquisa Empresa dos Sonhos dos Executivos 2012, realizada por NextView People e Grupo DMRH.

Zacharakis é coautor de Como conseguir investimentos para seu negócioPlanos de negócio que dão certo(ambos da editora Campus/Elsevier). A edição 92 de HSM Management publica um artigo de sua autoria.

O que a psicologia ensina sobre os processos cognitivos de um empreendedor e de um não-empreendedor?

A principal diferença é que empreendedores pensam sobre o que precisam fazer para que algo dê certo. Os não-empreendedores buscam as razões pelas quais algo não dá certo.

Que barreiras uma iniciativa intraempreendedora pode encontrar?

A principal barreira ao intraempreendedorismo é a cultura da empresa. Se estimula a iniciativa, ela virá.

O que um potencial intraempreendedor pode fazer quando depara com uma cultura assim?

Se a cultura for realmente contrária ao intraempreendedorismo, não há muito a fazer. Procure outro emprego.

O que compõe uma cultura que leve ao intraempreendedorismo?

Posso citar três fatores: liderança, sistema de recompensas e tempo. Primeiro, a liderança tem de dar exemplo. Contrata os mais brilhantes ou os que não a ameaçam? Segundo, sobre as recompensas, refiro-me tanto às financeiras como às intrínsecas. Se a cultura da empresa valorizar o aprendizado que vem com os erros, em vez de puni-los, os funcionários assumirão alguns riscos, tendo em mente que o sucesso trará reconhecimento e evolução rápida. O terceiro fator, tempo, tem a ver com a capacidade de permitir que o funcionário se dedique a pensar e fazer experimentos em seu horário de trabalho – o que não é possível quando só se apagam incêndios.

Suponhamos que você tivesse um estilo empreendedor e buscasse um emprego. Que tipo de cultura organizacional lhe seria mais interessante?

Uma cultura de aperfeiçoamento contínuo, ou seja, a empresa que inova em todos os sentidos: produtos, processos etc. Nela, eu estaria sempre aprendendo habilidades valiosas, como identificar novas oportunidades e aprender a inovar para desenvolver produtos e serviços de acordo com elas.

Uma pesquisa recente, realizada por NextView People e DMRH com mais de 5mil executivos brasileiros, mostra que mais da metade deles quer ter seu próprio negócio, em média dentro de seis anos. Essa expectativa lhe parece próxima do que será a realidade para eles?

Intenção e ação não são a mesma coisa. É provável que apenas 10% deles realmente abram seu negócio, porque, nessa fase de intenção, aprende-se muito sobre o que é necessário para empreender. Histórias como a de Mark Zuckerberg [fundador do Facebook] vêm nos inundando, mas logo percebemos que é preciso mais do que uma ideia interessante para termos uma startup. Mas ainda que um executivo decida mesmo seguir adiante em sua intenção, ele provavelmente dedicará a isso, de início, apenas parte de seu tempo, as noites e os fins de semana, de maneira a se certificar de que a teoria funcione na prática.

Levando em consideração esses dados da pesquisa, o que se pode dizer sobre os empregadores?

Observo que há dois tipos de empresas: as que são muito rígidas, que veem funcionários como engrenagens de sua máquina, substituíveis facilmente; e as que são também muito empreendedoras, que inovam continuamente e atraem e retêm muitos intraempreendedores. No primeiro caso, o funcionário está em busca de qualquer oportunidade de sair. No segundo, a empresa pode até comemorar uma saída assim, porque ajuda a atrair novos executivos inclinados a empreender.

Então, a saída do executivo não é necessariamente negativa para a empresa?

Na minha visão, esse é simplesmente o preço dos negócios, e um preço pequeno, em vista do que um executivo talentoso já entregou para a empresa. Uma empresa empreendedora atrai empreendedores. Ela reconhece que alguns a deixarão, mas o impacto que têm na companhia enquanto trabalham para ela excede em muito o custo de sua saída.

Fonte: Portal HSM