Notícia

Brasil – Um País (além) do Futebol

09/01/13

Por Marcelão

O Brasil sempre foi conhecido como sendo o país do futebol, dos grandes craques do passado e dos títulos mundiais da Copa do Mundo da FIFA. No entanto, por algumas vezes essa característica é apresentada de forma negativa como se fossemos apenas isso.

Essa realidade vem mundando com o passar do tempo e com o crescimento de nossa economia. Este ano, o Brasil foi o País parceiro da feira internacional de TI e telecom, considerado um dos eventos mais importantes do setor em nível mundial. Somos benchmarking em vários campos de desenvolvimento da TI, notadamente no campo da automação bancária com nosso sistema de pagamentos brasileiros que permite a compensação e a intermediação de valores entre bancos praticamente em real-time. Além disso, temos o exemplo também do nosso sistema automatizado de eleições.

Mas o grande marco para mostrar que nosso País também é um país que acredita no desenvolvimento do conhecimento, da tecnologia e da ciência será dado com a concretização do projeto “Walk Again” conduzido pelo professor Miguel Nicolelis e apresentado durante a HSM Expomanagement 2012.

O professor Miguel Nicolelis Lidera um grupo de pesquisadores da área de Neurociência da Universidade Duke (Durham, Estados Unidos), no campo de fisiologia de órgãos e sistemas, na tentativa de integrar o cérebro humano com máquinas (neuropróteses ou interfaces cérebro-máquina). O objetivo das pesquisas é desenvolver próteses neurais para a reabilitação de pacientes que sofrem de paralisia corporal. Nicolelis e sua equipe foram responsáveis pela descoberta de um sistema que possibilita a criação de braços robóticos controlados por meio de sinais cerebrais. O trabalho está na lista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) sobre as tecnologias que vão mudar o mundo.

O professor Nicolelis precisou separar a mente do corpo. O pensamento é uma onda elétrica pequena, na casa dos milivolts, espalhando-se pelo cérebro durante alguns milissegundos. Apesar de serem tão fracas, o experimento conseguiu medir essas ondas com a ajuda de eletrodos conectados aos cérebros de cobaias. O resultado é um som muito curioso e, conforme relatou em sua palestra na HSM Expomanagement 2012, Nicolelis contou que o filho dele define essa “sinfonia” como “pipoca estourando em um forno de micro-ondas com uma estação de rádio AM mal sintonizada ao fundo”.

Mas o que torna essas tempestades cerebrais realmente intrigantes é o fato de que elas são uma espécie de código, como uma linguagem de um programa de computador. Assim, a equipe do neurocientista conseguiu “ler” esses códigos e reproduzi-los em um artefato mecânico, como braços e pernas robóticas, o movimento que o cérebro pretendia executar no corpo do animal.

A partir daí, ele e sua equipe desenvolveram uma interface cérebro-máquina a partir do mapeamento do maior número possível de atividades dos neurônios do cérebro de forma simultanea, de forma a definir modelos matemáticos utilizando a filosofia do processamento distribuído para entender os comandos motores que o cérebro produz e reproduzi-los em artefatos robóticos. A ideia final é criar um corpo parelelo, como no filme AVATAR.

Além disso, o sistema não se restringiria apenas a enviar comandos para essa interface cérebro-máquina para realizar uma ação, mas também receber informações do dispositivo controlado como informação visual ou até mesmo a sensação de tato de um objeto.

Para se ter uma idéia do avanço desses experimentos, eles conseguiram fazer com que fez com que as ondas cerebrais de uma macaca rhesus viajassem pela internet para controlar um robô do outro lado do mundo. A macaca rhesus caminhava sobre uma esteira, nos Estados Unidos, enquanto assistia à transmissão do vídeo das pernas de um robô localizado no Japão conforme vocês podem constatar no vídeo abaixo:

Além disso, o professor Miguel Nicolelis está desenvolvendo um exo-esqueleto que será conectado a interface cérebro-máquina e permitirá devolver a uma pessoa paraplégica ou tetraplégica a capacidade de se movimentar novamente. A razão é que, normalmente, a causa da paralisia dos membros é uma lesão na medula espinhal, o que significa que a atividade cerebral continua normal, mas que o “comando” dado por ela não chega até o corpo. Com a separação de corpo e mente seria possível, entretanto, usar a “força do pensamento” para controlar próteses, como um eixo-esqueleto, capazes de devolver esses movimentos aos pacientes.

E, como todo o projeto, o professor Miguel Nicolelis tem a meta de implantar essa interface cérebro-máquina e o eixo-esqueleto em uma pessoa, paralisada da cintura para baixo. Nicolelis espera que, na abertura da copa do mundo da FIFA em 2014 no Brasil, os times sejam liderados não pelos capitães, mas por crianças brasileiras paraplégicas que andarão até a bola e darão o primeiro pontapé do evento, mostrando ao mundo que o Brasil é muito mais do que o país do futebol.

Com sua experiência, além de colocar o Brasil no mapa dos grandes descobrimentos científicos, o professor Miguel Nicolelis prova que a ciência é um agente de transformação social e que devemos cada vez mais exercitar nossa capacidade de pensar no possível, pois a tecnologia não é e nunca foi limitadora para desenvolvermos coisas impossíveis, é tudo apenas uma questão de tempo.

Um abraço.

“I believe in change”

Twitter: @blogdomarcelao

Marcelo de Souza Bastos é consultor da Gerência de Inovação em Tecnologia e agente de Inteligência Competitiva no Banco do Brasil, além de gerente de projetos certificado pelo PMI. Também atua como palestrante em assuntos relacionados à inovação e tendências tecnológicas.

Fonte: HSM